Há alguns dias, terminei Mulheres, Raça e Classe depois de um mês e meio lendo. Adquiri esse livro no final de 2020 e estava tomando coragem para ler - já que saberia que seria denso. Porém ainda assim sonhava em ler ele, principalmente após ler A Liberdade É Uma Luta Constante no meio do ano. Sempre admirei a Angela Davis e hoje venho dar a vocês três motivos para ler Mulheres, Raça e Classe.



1. Por mais interseccionalidade


 A interseccionalidade é, por definição, uma espécie de categoria que analisa diversos sistemas de opressão, tanto individualmente quanto em interação, como gênero, raça e classe. E em vários movimentos sociais a interseccionalidade é essencial para abordar as várias facetas de um problema ou opressão - inclusive no feminismo. 


 Portanto, creio que todas as pessoas feministas deveriam ler esse livro em nome de uma análise mais profunda da opressão de gênero e como ela é intensificada pela raça, seja na escravidão ou além dela. Não é possível ser ativista pelos direitos das mulheres sem acolher a pluralidade, as várias formas de opressão que todas as mulheres sofrem, e isso se enquadra nas opressões de mulheres negras, indígenas e trans - por mais que essas duas últimas não sejam abordadas no livro, mas vale a pena exemplificar.


2. Por mais autocrítica no movimento feminista


 Esse motivo está intrinsecamente ligado ao primeiro, pois uma das coisas mais abordadas por Angela no livro é o movimento sufragista e o imenso racismo e elitismo dentro dele. Mas claro que não se limita ao movimento sufragista, pois mais a frente no livro, Angela também fala sobre a falta de aprofundamento nas opressões de raça e classe na primeira onda feminista, em pautas como aborto e etc.


 Em muitos momentos no livro, fica explícito sobre como o movimento sufragista e feminista, pelo menos em primeiro momento, foram movimentos pautados pelas necessidades de mulheres brancas e de classe média, raramente pensando no que as mulheres da classe trabalhadora e mulheres negras precisavam - e que, se vocês me permitem a opinião, eram coisas extremamente importantes e que precisavam de mudança imediata.


 O que me deixou com uma pulga atrás da orelha ao notar isso, foi notar também que o feminismo, principalmente o liberal dos dias atuais, ainda encontra ceticismo e ignorância ao evitar abordar o racismo e a opressão da classe trabalhadora em seu discurso - e quando abordam, é de forma completamente rasa e que não promove nenhuma discussão real, mas apenas finge se importar com as mulheres que passam por todos esses empecilhos; isso quando não diminuem e criticam essas reivindicações.


 Por isso, ler Mulheres, Raça e Classe promove uma enorme autocrítica que é essencial para os feminismos plurais; porque é indispensável recorrer a uma análise dos erros do passado, para não reproduzi-los no futuro e melhorá-los.


3- Por mais profundidade nas pautas


 Desde a segunda onda do feminismo até atualmente, as pautas mais recorrentes dos feminismos são o aborto, a liberdade sexual feminina, mais cargos para mulheres, educação para todes e por aí vai. Porém… nem sempre essas pautas abrangiam todas as mulheres. Como descrito no item 2, falta muita profundidade na abordagem dessas pautas por meio das feministas, principalmente as de classe média e brancas. Muitas dessas pautas têm efeitos diferentes em mulheres diferentes, como por exemplo o aborto, que é mais arriscado para mulheres pobres quando feito de forma ilegal, mas que para mulheres ricas pode ser feito por baixo dos panos sem muitos percalços.


 Então, ao ler Mulheres, Raça e Classe, é possível entender melhor essas diferenciações de raça, gênero e classe para as pautas; a Angela disseca principalmente as reinvindicações da segunda onda feminista, talvez porque o livro foi escrito próximo a essa época (1981). Ela analisa todas as nuances e possibilidades de forma racional e sempre apresentando muitas fontes e pontos de vista de outras pessoas, então há como formar uma opinião sólida a partir da leitura desse livro e de outras obras, além da vivência individual de cada um.



 A leitura de Mulheres, Raça e Classe foi uma aula de história, filosofia e sociologia para mim, e creio que será assim para todes que lerem. Não posso evitar panfletar ele o máximo que posso, pois mais pessoas precisam conhecer o pensamento de Angela Davis.

 Deixarei não só o link para comprar esse livro, como também a biografia da Angela, que é super importante para contextualizar o livro. Espero que tenham gostado e se sentido inspirados a ler o livro!


Quem é Angela Davis?


Angela Davis é professora, filósofa, ativista pelos direitos civis e socialista. Quando na faculdade teve aulas com Herbert Marcuse, e integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos; ficou muito conhecida também por apoiar os Panteras Negras (tem post sobre aqui!) e, após ser acusada erroneamente de comprar armas usadas em um julgamento onde os réus e o juiz foram mortos, foi declarada uma das pessoas mais procuradas dos Estados Unidos e terrorista perigosa. Foi presa e sua prisão gerou um enorme movimento cultural de proporções nacionais chamado “Free Angela” (Libertem Angela). Ela foi libertada em 1972 e desde então é uma notória pensadora das questões sociais atuais. 







0 Comentários