“A liberdade de expressão sofreria um duro golpe se interesses particulares tivessem o poder de reduzir ao silêncio vozes que os incomodam na mídia.”


 Aviso de gatilho: Há cenas que retratam a violência sexual, flertes com pedofilia e agressão física.


 No primeiro romance da trilogia Millenium, conhecemos o jornalista Mikael Blomkvist, que acaba de ser condenado por difamação por um grande financista sueco. Ele recebe, então, uma proposta interessante: o industrial Henrik Vanger o contrata para escrever uma biografia da sua conturbada família e investigar o misterioso desaparecimento de sua sobrinha, Harriet. Paralelamente, conhecemos a hacker Lisbeth Salander, que logo se envolverá também na investigação de Mikael.

 A narrativa desse livro é viciante, por mais que lenta em certos pontos. Apenas após a metade do livro as coisas realmente começam a acontecer; antes disso, somos apenas introduzidos à família Vanger, ao Mikael e à Lisbeth. Isso não o faz menos interessante - eu me envolvi completamente na narrativa, sendo ela lenta ou não. Mesmo sendo uma releitura, haviam muitos detalhes que eu não recordava.

 Porém, sinto que o clímax do livro foi demasiadamente rápido. Acho que seria ainda mais emocionante se fosse um pouco mais estendido. Mas isso não tirou a adrenalina do momento. Por isso, dei apenas 4 estrelas, mas favoritei ele.

 Outra coisa que muito me agradou no livro foi o pano de fundo histórico da Suécia, dado pelo autor. Conhecemos, além de diversos casos e acontecimentos suecos, a relação do país e de seus habitantes com o nazifascismo. Tudo isso, é claro, por meio da família Vanger.

 Ademais, conhecemos muito sobre a relação imprensa-política e imprensa-economia, além dos casos de colarinho branco e a responsabilidade jornalística. Foi algo que achei muito interessante.


 “Simplesmente acho patético que sempre concedam circunstâncias atenuantes aos canalhas.”


 Eu diria que esse livro é sobre a misoginia, tal qual se infiltra tanto no enredo a ponto de percebermos sempre um padrão: o padrão do ódio às mulheres, que levou diversos homens a cometerem crimes ardilosos e culparem (pasmem) as mulheres disso, e não sua própria perversidade. É difícil de ler sem se enojar, mas elucida muita coisa e retrata muito realisticamente a violência sofrida pelas mulheres.

 E isso também é retratado no segundo livro, que comecei a ler agora. Mesmo que o tema principal de A Menina Que Brincava Com Fogo seja tráfico sexual (algo que já retrata a misoginia e diversas outras problemáticas), há também violência física dentro de relacionamentos, isso até onde li.

 Larsson teve uma maestria sem igual ao escrever sobre um assunto tão complicado e diverso, não economizando nas formas de ilustrar as violências que as mulheres sofrem.

 Considero esse livro QUASE um romance de formação. É uma grande introdução aos heróis, anti-heróis e antagonistas. O “herói” seria o Mikael, por mais que nem ele interprete dessa forma: são como as pessoas enxergam ele. A anti-herói seria a Lisbeth, que para mim, é a personagem mais eletrizante e bem construída (além de misteriosa) da trilogia. E a antagonista, com toda a certeza, é a sociedade misógina que continua matando mulheres e as culpando por isso.

Sobre o autor

Stieg Larsson nasceu em 1954 e foi um dos mais influentes jornalistas e ativistas políticos da Suécia. Aos 50 anos, em 2004, após entregar a trilogia aos seus editores, morreu de um ataque cardíaco.




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