Sintoma ou Consequência?
Sintoma ou consequência?
Que eu adoro ler distopias, não é segredo para ninguém que me acompanhe a mais tempo por aqui; sou fascinada em como elas traduzem uma realidade não tão distante, e em como elas representam tão bem as mazelas que estamos fadados a encarar.
Porém, algo que venho percebendo ao ler fantasias, é que até mesmo elas estão começando a ter veias distópicas. Utilizo como breve exemplo disso a sociedade (mal) dividida de A Rainha Vermelha, que exemplifica bem as divisões de classe (trabalhadora/burguesa), e as dificuldades que aqueles que estão na base da pirâmide passam.
Além desse livro, há também um que finalizei ontem mesmo: Jogos Vorazes, da Suzanne Collins. Esse por sua vez é uma distopia “adolescente”, mas após ler, reconheço que vai muito além de um simples rótulo. A forma como é exposto as classes (ou castas, nesse contexto) e suas divisões, além da opressão imposta pela Capital e seus burgueses, é excepcional.
E foi ao finalizar este último que comecei a me perguntar: essas novas distopias e fantasias distópicas são um sintoma da nossa sociedade que fraqueja cada vez mais diante das injustiças e desigualdades, ou uma consequência de uma dita sociedade que já se rendeu faz tempo a tudo isso?
É claro para nós quando lemos distopias escritas dos anos 40/50 em diante, que elas foram feitas com base em um mundo pós-barbárie e dividido. Mas tendo em vista que essas que citei foram escritas na última década, o que isso diz sobre esse século?
Uma pequena esperança que carrego comigo é o fato de que ambos os livros citados e muitos outros se tornaram fenômenos entre os adolescentes. Quem sabe eles não ajudem o mundo a acordar do sono da razão, pois os monstros produzidos por tal já estão soltos há mais tempo do que deveriam.
O Sono da Razão Produz Monstros, Francisco Goya
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