“Mas o rosto sobre o travesseiro, rosado pela luz da lareira, era certamente o de Clarice Starling, e ela dormia profundamente, no silêncio dos inocentes.”


Continuação de Dragão Vermelho, O Silêncio dos Inocentes é um thriller onde cinco mulheres são assassinadas em diferentes locais no EUA pelo assassino apelidado de Buffalo Bill - tal qual deixa casulos de mariposas nas gargantas das vítimas. Para conseguir encontrar esse assassino a jovem agente do FBI Clarice Starling é chamada, com o objetivo de entrevistar o Dr. Hannibal Lecter para lhe pedir ajuda. Ao seguir as pistas dadas pelo Dr. Lecter, Clarice se envolve cada vez mais na mente doentia do canibal.
Outrora descrevi Dragão Vermelho como “frenético e hipnotizante”, porém O Silêncio dos Inocentes é mais que isso: é uma dança macabra e mortífera, em que você se envolve sem perceber e não sabe se sairá vivo. Com a maior participação do Hannibal nesse livro, somos tragados pela aura misteriosa e intrigante que ele tem; é um dos melhores antagonistas que já tive o prazer de ler em um thriller, sem sombra de dúvidas. Há um quê de charme nele, então é difícil não se afeiçoar à sua imagem carismática (quando ele não estava arrancando o rosto de ninguém à mordidas ou manipulando, claro). Além dele, a Clarice é uma peça chave na narrativa: sendo a única mulher na linha de frente do caso, ela tem uma visão diferente e única de todos os aspectos. Não é atoa que Hannibal gostou dela, já que sua personagem é uma mulher forte e firme naquilo que faz e acredita, mesmo que por vezes esteja insegura quanto a sua autoridade na investigação. Como há também o ponto de vista do Buffalo Bill, conhecemos todo o seu passado perturbador e a sua relação estranha com os corpos femininos e com o seu próprio, o que acabou por resultar na série de assassinatos. É um assassino diferente do que aquele retratado em Dragão Vermelho, pois enquanto Dolarhyde matava para suprir sua admiração e vaidade refletido na imagem do Dragão Vermelho de William Blake, Buffalo Bill supre um algo que nos é desconhecido até as últimas cem páginas do livro; porém é de nosso conhecimento o seu apreço doentio pelo corpo feminino e uma misteriosa vontade de se metamorfosear.


Em relação ao filme, sigo forte na opinião de que o Anthony Hopkins foi a escolha perfeita para representar o Hannibal Lecter, e assim, o eternizou como uma figura da cultura que carrega a mesma aura do assassino: misterioso, intrigante, com um leve charme perigoso. Quanto à Clarice Starling, creio que a Jodie Foster foi uma escolha certeira, pois há nela a mesma aura inocente da personagem. O Ted Levine como Buffalo Bill simplesmente traduz para as telas cada traço do assassino descrito no livro, tanto traços faciais quanto sua expressão corporal que traduz prepotência. Creio que essa adaptação, assim como a anterior da trilogia do Hannibal, foi muito bem feita, por mais que (claro) tenha uma coisa ou outra que não tinha no livro, e por aí vai.


Estava receosa de ler esse livro, pois com Dragão Vermelho a leitura não fluiu como imaginava. Porém O Silêncio dos Inocentes fez jus ao título de obra-prima do Thomas Harris: sua escrita parece amadurecida, a narrativa flui facilmente, além de ser impossível não se jogar de cabeça na história. Além disso, concretizou-se como um dos clássicos de suspense do cinema internacional, e não é por pouco: é um filme que, assim como o livro, te puxa para uma dança mortífera. Portanto, leiam esse clássico e assistam a adaptação, é uma experiência sem igual.

Sobre o autor
Thomas Harris, nascido no Tennessee em 1940, além de escritor também é roteirista e jornalista. Teve todos os seus romances de suspense sobre o personagem Hannibal Lecter adaptados para o cinema, sendo o mais famoso o ganhador de 5 Oscars “O Silêncio dos Inocentes”.




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