“Seus valores de decência e decoro prosseguiam, chocados com suas associações, apavorados com seus sonhos; uma pena que na arena de ossos do seu crânio não houvesse fortalezas para o que ele amava”


 Em Dragão Vermelho, Thomas Harris nos apresenta um thriller frenético, onde há uma série de assassinatos misteriosos e cruéis de famílias, feitas pelo criminoso apelidado de Fada do Dente. Para investigar esses assassinatos, o ex-agente do FBI Will Graham é chamado; agente que outrora conseguiu reunir provas para condenar o canibal Hannibal Lecter, algo que quase lhe custou a vida. Agora, para conseguir entender a doentia mente Fada do Dente, Will terá que enfrentar seus fantasmas e pedir ajuda ao Dr. Lecter.
 Eu não descreveria esse livro de outra forma, senão frenético e hipnotizante. Ao acompanhar as investigações de Graham, acabamos por lidar também com a sua habilidade majestosa de entender a mente dos assassinos e, consequentemente, as dúvidas sobre a sua própria sanidade. Quase como em uma melodia macabra, o leitor é envolvido nos jogos mentais que ocorrem entre Graham, Lecter e o Fada do Dente. Ao termos também o ponto de vista do Fada do Dente (ou Dolarhyde, seu nome real), conhecemos sua infância e suas inseguranças, como também sua obsessão pela pintura do Dragão Vermelho (de William Blake) e seus impulsos assassinos. Porém, devo dizer que o que provavelmente mais me roubou a atenção foi o Hannibal Lecter; não tem como não concordar que ele é cativante de uma forma assustadora, seja para os próprios personagens ou para o leitor. Infelizmente ele pouco aparece, mas nas lembranças e medos do Graham, ele sempre está presente. Creio que Thomas Harris criou um dos antagonistas mais admiravelmente perturbadores e presentes no imaginário popular ao criar o Hannibal Lecter; mesmo ele quase não aparecendo ao decorrer do livro, ele permanece na mente do leitor, como que espreitando e esperando uma chance de te manipular. É uma das construções de personagem mais geniais que já vi, fazendo com que até hoje ele seja um personagem lembrado quando falamos de assassinos em série no meio literário (e também no cinema). Achei muito interessante também a forma como foi criada em torno da pintura do William Blake o objeto de admiração do Dolarhyde, e por meio dela a sintetização de seu desejo de ser belo, poderoso e quase divino; coisas que a pintura emana.


A única coisa que me incomodou na leitura foi a demora para os acontecimentos, o que fez com que eu demorasse muito para ler, mas no fim valeu a pena; tudo aconteceu no tempo certo, e com isso, não sobrecarregou a leitura. Porém, admito que apenas com muita força de vontade li os capítulos da infância do Dolarhyde, pois mesmo estes sendo essenciais para compreender o personagem, me soaram demasiadamente “arrastados”.



 E, para finalizar, achei o filme fiel ao livro (amém?). Mesmo retirando alguns elementos do livro aqui e ali, adicionando cenas para contextualizar (como a primeira, em que há um embate entre o Dr. Lecter e o Graham) e até mesmo conectar com a continuação (O Silêncio dos Inocentes), creio que foi uma adaptação excelente. Além disso, a atuação do Edward Norton como Will Graham compreendeu todo o ar perturbado do personagem, seus conflitos internos e demônios. Creio que nem preciso falar da atuação do Anthony Hopkins como Hannibal Lecter! Ele conseguiu eternizar ainda mais o antagonista, tornando-o ainda mais memorável na cultura pop. Por fim, acho que a escolha de Ralph Fiennes para interpretar o Dolarhyde foi certeira: até mesmo em seus trejeitos, o ator conseguiu retratar a obsessão por poder que o assassino sentia. Portanto: leiam o livro e vejam o filme (disponível na Netflix)! Ambos são incríveis e hipnotizantes.





Sobre o autor
Thomas Harris, nascido no Tennessee em 1940, além de escritor também é roteirista e jornalista. Teve todos os seus romances de suspense sobre o personagem Hannibal Lecter adaptados para o cinema, sendo o mais famoso o ganhador de 5 Oscars “O Silêncio dos Inocentes”.




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