Capitães da Areia, Jorge Amado - Resenha
Nesse ponto, gostaria de discutir alguns dos problemas abordados no livro, nas entrelinhas ou abertamente. O primeiro é a Hipocrisia, mostrado pelo ponto de vista do Padre José Pedro, que ajudava os meninos da forma que lhe era possível. No decorrer do livro, ele é repreendido por superiores e pessoas que frequentam a Igreja, que dizem que ele utiliza o dinheiro da Igreja para dar às crianças tão temidas por eles. O seu superior chegou até a dizer que ele soava como um comunista ao tentar defender os meninos. Citando uma fala do padre ao falar com o cônego, “ Que culpa eles têm? Quem cuida deles? Quem os ensina? Quem os ajuda? Que carinho eles têm?”. Isso me deixou pensando muito sobre aqueles que falam em ajudar o próximo, mas afastam o próximo e o demonizam quando ele mais precisa.
O segundo é o efeito do Abandono de crianças, ponto que eu já abordei mas quero me aprofundar aqui. Esse é mostrado pelo ponto de vista de muitos dos Capitães da Areia, mas principalmente do Sem Pernas. A sua história, seja anterior ao período da narrativa do livro ou ao longo dele, é angustiante. Ver o quanto ele sofreu por isso, e o ódio extremo que ele acumulou por conta disso, é esmagador.
O terceiro é a Repressão Estatal por meio da Polícia às crianças, mostrado através do Reformatório. Quando há cenas no Reformatório é (no mínimo) repugnante. Naquela época havia a falha crença de que se aprendia com a violência; no caso do Reformatório, não há nada para ensinar, mas apenas uma ferramenta do Estado para punir e acabar com aqueles que consideram marginais.
O quarto é um aspecto mais geral, o Medo do Comunismo. Esse aspecto é mostrado em diversos momentos do livro, e para entendê-lo é necessário um recorte histórico. Desde a Revolução Russa, havia um medo generalizado nas nações liberais do comunismo, como se este fosse algo perigoso, destruidor dos valores da religião e da família. Esse tipo de manipulação veiculado principalmente na mídia é utilizado por governos de direita e totalitários, inclusive foi utilizado por Getúlio Vargas como uma forma de implantar o Estado Novo (período ditatorial da Era Vargas). Jorge Amado foi astuto ao utilizar desse medo e criticá-lo, mostrando a capacidade da população e autoridades de se alienarem por meio da mídia ou discursos políticos. Atual, não?
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