"São Paulo, dia 1º de Outubro de 1992, oito horas da manhã.
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK
Metralhadora alemã ou de Israel
Estraçalha ladrão que nem papel"

(Diário de Um Detento, Racionais Mc's)

Hoje, dia 02 de outubro de 2020, fazem 28 anos desde o Massacre do Carandiru.

A Casa de Detenção de São Paulo, conhecida popularmente como Carandiru, foi inaugurada em 1920. Por 20 anos, foi considerada um modelo no mundo todo de higiene, mas a partir da década de 1940 começou a superlotar e ter diversos problemas. Era dividida em pavilhões sendo o pavilhão 9 o que abrigava os réus primários (presos pela primeira vez).


Foi no pavilhão 9 em que ocorreu o estopim de uma rebelião, durante um jogo de futebol entre os detentos, por conta de uma briga entre dois prisioneiros de facções rivais. A rebelião se espalhou pelo pavilhão, mas ninguém imaginava o que estaria por vir.

 300 policiais adentraram no pavilhão sob o comando do Coronel Ubiratan, e como resultado disso, 111 presos foram mortos (número dado pelo Governo do Estado de SP). Porém, enquanto os policiais alegam que os presos resistiram e que a situação estava fora de controle, os presos sobreviventes e grupos de Direitos Humanos afirmam que haviam conversado com o Diretor do Carandiru e decidido pôr um fim na rebelião; porém, os PMs foram violentos. Segundo os grupos de Direitos Humanos, seriam mais de 200 presos mortos.

 A perícia analisou que os presos não houve confronto, pois a maioria dos tiros foram no tórax ou na cabeça; além disso, conta-se que os presos que sobreviveram eram obrigados a carregar e empilhar os corpos dos mortos. No filme Carandiru (baseado no livro Estação Carandiru, do Drauzio Varella) há uma representação gráfica disso, e muito se diz que alguns presos sobreviventes pegaram HIV do sangue que banhou os corredores entre as celas, e da boca dos cachorros que os policiais utilizaram.

"Sem padre, sem repórter
Sem arma, sem socorro
Vai pegar HIV na boca do cachorro
Cadáveres no poço, no pátio interno
Adolf Hitler sorri no inferno"

O Ministério Público acusou 120 policiais de lesão corporal, homícidio e tentativa de assassinato; em 1998, 85 policiais se tornaram réus, dentre eles o Coronel Ubiratan. Este foi condenado por 102 mortes e 624 anos de prisão, mas fora absolvido em 2006. Em 1994, foi candidato a deputado estadual e recebeu 26 mil votos. Em 2013, 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão por 13 mortes cada, e outros 25 policiais foram condenados a 624 anos de prisão por 52 mortes cada.


 Em setembro de 2016, a 4ª Câmara do TJ-SP anulou as condenações dos policiais, alegando que não havia como individualizar a conduta dos condenados. Porém em 2018, o Supremo Tribunal de Justiça invalidou essa decisão, determinando que os desembargadores refaçam o julgamento de 2016. Não há data prevista de novo julgamento.


De 74 policiais envolvidos no massacre, 58 foram promovidos.


“Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo

Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio”


Boatos dizem que o PCC, até então time de futebol que disputava torneios internos na cadeia, começou suas ações em resposta ao massacre. Camila Dias, Professora da Universidade Federal do ABC e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), diz que:


“O PCC é, sem dúvida, o principal efeito do massacre. Não apenas deste evento isolado, mas da política de segurança daquela época, marcada pela violência institucional, pelo desrespeito aos direitos e pela arbitrariedade do Estado“


  Esse foi o maior massacre do sistema prisional brasileiro, uma barbárie quase esquecida na memória de uma população que se acostumou a fechar os olhos. No dia 8 de dezembro de 2002, três pavilhões foram implodidos, e foi construído em seu lugar o Parque da Juventude e instituições culturais e educacionais.


“O Senhor é meu pastor

Perdoe o que seu filho fez

Morreu de bruços no Salmo 23”




Indicações:


- Estação Carandiru, Dr. Drauzio Varella (Compre o livro aqui)


- Filme Carandiru, de Héctor Babenco (2003)


- Relato de um preso que sobreviveu ao massacre (Leia aqui )


- Música Diário de Um Detento, Racionais Mc's (Ouça aqui )


- História Completa do Carandiru (Leia aqui )


Fontes:


- Livro Estação Carandiru, Dr. Drauzio Varella


- https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/10/02/de-74-pms-envolvidos-no-massacre-do-carandiru-58-foram-promovidos.htm


- https://www.politize.com.br/massacre-do-carandiru/


- Imagem da planta do Carandiru: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fdocplayer.com.br%2F88113549-Do-carandiru-ao-parque-da-juventude-reconstrucao-da-paisagem-urbana.html&psig=AOvVaw1MaXVffbBgYDimDs5KCbZU&ust=1601670087737000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOiztpiclOwCFQAAAAAdAAAAABAD


- http://www.saopauloinfoco.com.br/historia-carandiru/







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