“Tão infeliz quanto os homens não há ser algum, por sem dúvida,/ entre os que vivem na face da Terra e sobre ela se movem.”


 O poema épico Ilíada narra os acontecimentos do décimo e último ano da Guerra de Tróia, iniciados e perpetuados com a ira do guerreiro Aquiles. Como pano de fundo, temos os deuses escolhendo ora o lado troiano, ora o grego; e também seus próprios desentendimentos entre si. Durante a narrativa, aparecem diversos nomes de heróis gregos conhecidos, como Ajax, Odisseu, Nestor, Heitor e Pátroclo (discípulo de Aquiles).

 O ódio de Aquiles que se inicia com o rapto da bela Criseida pelo comandante Agamemnon perdura durante quase todo o livro, e acaba somente com a morte de entes queridos de ambos os lados, troianos e gregos. A poesia é dividida em três partes, de acordo com o ciclo diário em que os antigos gregos escutavam ela dos Homéridas: do I ao VIII, do IX ao XIX e do XX ao XV.

 Porém, essa narrativa bem ritmada e fantástica ultrapassa os limites das páginas, se transformando em uma magia que encanta e envolve o leitor a cada verso que se passa. Há um quê de misticismo e paixão nas linhas desse livro, algo que nunca li em nenhum outro. É quase como se essa história de amor e ódio milenar permanecesse ainda hoje, milhares de anos depois, com a chama acesa e ardendo mais que nunca. 

 Os deuses aqui são tão abstratos que chegam a ser realistas, sempre tão preocupados com seus próprios insignificantes problemas, que quase esqueceram-se da guerra que se passava em nome deles. Contudo, de quando em quando tomavam parte de alguns heróis e interferiam no curso natural das coisas, provocando a ira de Zeus.

 Já os heróis, principalmente Aquiles, são representações do modelo de homem ideal grego a ser seguido, belo e bom, disposto a morrer pela honra de sua pátria, sendo assim eternizado na história grega.



Homero (ou os Homéridas) tem uma narrativa surpreendente, precedendo o sentimento de desolação e ruína capítulos antes da tragédia real, cultivando no leitor uma ansiedade que se estende por quase toda a obra. Já as cenas de combate são as melhores que já li, hipnotizantes e com uma sonoridade contínua e envolvente, sendo “épicas” no sentido mais puro dessa palavra. O canto XI, em que Pátroclo morre, então? Foi um dos mais emocionantes da leitura e se tornou também um dos meus prediletos. Mas o último, em que o pai de Heitor vai buscar seu corpo no acampamento grego, denota uma profundidade inexplicável. Demonstra a culpa que Aquiles sente por Pátroclo ter morrido, sem que pudesse socorrê-lo. Mas demonstra também o choque de um pai sentar-se na mesa do assassino de seus filhos para um almoço, uma cena que provoca desconcerto de ambas as partes (“Príamo, o velho Dardânia, o vulto de Aquiles admira,/ sua imponência e estatura, que um deus imortal parecia./ Não menor pasmo de Aquiles se apossa ante a vista de Príamo,/ vendo-lhe a nobre aparência e escutando-lhe os nobres conceitos.”)

 Devo dar também muito mérito ao entendimento dessa obra por conta da incrível edição da Nova Fronteira, que conta (sempre) com uma introdução incrível e satisfatória, que faz uma análise profunda da obra.

 Além disso, é importante deixar claro que os estudiosos modernos das obras e vida de Homero acreditam que ele, na verdade, nunca foi um poeta só; e que seus poemas advém de séculos de histórias contadas oralmente, que depois foram reunidas em uma unidade sob o nome fictício de Homero. Como o historiador e filósofo Richard Tarnas disse, Homero foi “uma personificação coletiva de toda a memória grega antiga".

 Essa obra foi, segundo o consenso científico atual, concebida nos últimos anos do século IX a. C., ou a partir do século VIII a. C.; sendo Ilíada anterior a Odisseia.

 Esse livro é uma experiência de vida, e sugiro que todos um dia o leiam. Não é exatamente fácil de ler, mas vale toda a pena. Sua magia e beleza eternizada, seu caminhar único que envolve o leitor, os momentos humanos de rara profundidade… é singular.


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